O Preço do Brasil: Uma política a serviço de quem?
Diante dos recentes episódios no Congresso Nacional, uma pergunta grita nas ruas, nas redes, nos lares conscientes: o Parlamento brasileiro se converteu numa máquina mercenária? As respostas — em forma de indignação, protestos e silêncio cansado — indicam que a percepção popular da política nacional atingiu um ponto crítico de saturação moral.
De um lado, discursos revestidos de civismo, juramentos à Constituição, promessas de combate à desigualdade. Do outro, bastidores que operam como mercados silenciosos, leilões de influência, balcões de negócios onde o que está à venda é o destino do povo brasileiro. O caso recente envolvendo o deputado Hugo Motta, presidente da Comissão de Orçamento e liderança em ascensão, sintetiza essa esquizofrenia entre fala e ação.
A FALA DA DEMOCRACIA, A PRÁTICA DO PRIVILÉGIO
Em seu discurso como presidente da Câmara, Motta foi categórico: “Servir ao Brasil, servir ao Brasil, servir ao Brasil.” Disse que não lutaria por poder, mas pelos que não têm poder. Declarou compromisso com transparência e combate a privilégios.
Mas poucos dias depois, o mesmo deputado liderou a manobra que anulou um decreto que tributaria milionários em operações no exterior, cortando R$ 12 bilhões de arrecadação que poderiam ir para saúde, habitação e educação. Essa contradição é gritante. A mesma voz que bradava contra privilégios, agora blindava os donos do capital.
Não se trata de um deslize ou de uma interpretação dúbia. Trata-se da confirmação de um padrão. O Parlamento passou a operar por lógica de interesse, não por critérios de justiça. A máquina do Estado serve cada vez mais aos 0,01% mais ricos, em detrimento dos milhões que sobrevivem com salários achatados e serviços públicos em colapso.
E a consequência direta desse tipo de prática é o esgarçamento do pacto democrático. Quando a cidadania se vê traída, a desilusão alimenta perigos ainda maiores: o desinteresse, o negacionismo, o autoritarismo. Uma democracia saqueada por dentro, por seus próprios representantes, é um convite aberto ao colapso das instituições.
O VOTO COMO MOEDA: A LÓGICA MERCENÁRIA
A política brasileira, em muitos de seus setores, não é mais movida por ideais, mas por interesses. Vota-se por cargos. Aprova-se projetos em troca de emendas. Articula-se a liberação de bilhões com o único objetivo de manter bases eleitorais ou atender patrocinadores invisíveis.
A democracia, que deveria ser pacto social para o bem comum, transformou-se em um campo de guerra orçamentária onde o povo é refém, não protagonista. A lógica mercenária desumaniza o exercício parlamentar. E sua consequência é cruel: hospitais que não abrem, escolas que fecham, famílias sem teto, vidas que se perdem — tudo em nome da manutenção de privilégios.
Há algo de profundamente perverso nessa transformação. O Parlamento, que deveria ser espaço de mediação entre diferentes visões de mundo, tornou-se um campo de transações frias. A moeda? O voto. O produto? A vida do povo.
ENTRE A CASA DO POVO E A CASA DO LEILÃO
A incoerência entre o discurso público e a prática legislativa corrói as bases da cidadania. Quando se promete servir ao povo, mas se age para blindar milionários, trai-se a Constituição e ofende-se a República. Quando se diz defender a justiça, mas se age para evitar que os ricos contribuam com impostos, rompe-se o pacto democrático.
A Câmara dos Deputados, chamada a ser casa do povo, vem se tornando um espaço de negócios onde o povo raramente é lembrado — exceto como estatística, retórica ou massa de manobra. A agenda do lucro se sobrepõe à agenda da vida.
Essa perversão não se dá apenas nos grandes embates de orçamento e reforma tributária. Ela se manifesta nas pequenas omissões, nos silêncios coniventes, nas nomeações casuísticas. Cada voto comprado ou trocado representa não apenas um erro político, mas uma traição moral.
OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA
Essa trajetória mercenária é mais que uma ameaça moral: é uma ameaça institucional. Quando o Parlamento se torna um “clube de influências” e o povo sente que perdeu sua voz, o caminho para o autoritarismo se abre. A desesperança alimenta o populismo e justifica rupturas.
E a democracia brasileira, com todas as suas imperfeições e lutas históricas, não merece ser demolida pela ganância de uns poucos. É necessário defender as instituições, mas jamais sacrificar a justiça em nome da estabilidade. Uma democracia viva exige vigilância, participação e ética.
A omissão diante da corrupção cotidiana transforma o cidadão em cúmplice involuntário. Precisamos retomar a consciência de que a política é uma extensão de nossos valores e, por isso, não pode ser tolerante com o desvio. Não há neutralidade possível entre o bem comum e o privilégio sustentado com dinheiro público.
CAMINHOS DE RESISTÊNCIA E RECONSTRUÇÃO
Não estamos condenados a esse modelo. Ainda há tempo — e há meios — para reverter essa lógica perversa. Mas é preciso coragem. Coragem para fazer reformas estruturais que mexam nos privilégios reais, coragem para combater o financiamento empresarial de campanhas, coragem para devolver ao povo o poder de revogar mandatos que traem a vontade coletiva.
E mais: é preciso educação cívica em massa, mobilização popular permanente, criação de observatórios legislativos e redes de fiscalização cidadã. O povo tem que deixar de ser figurante e assumir o protagonismo da história.
Felizmente, exemplos de resistência existem: mandatos populares, coletivos, movimentos sociais que fazem escuta ativa, que devolvem ao cidadão a capacidade de pensar e decidir. É preciso apoiar e expandir essas iniciativas, como sementes de uma política regenerada.
A PALAVRA FINAL É NOSSA
Diante da corrupção sistêmica, a resposta não pode ser o silêncio. A cada retrocesso, a cada voto que protege fortunas enquanto sacrifica os pobres, a sociedade precisa reagir — com inteligência, mobilização e fé no bem comum.
“Endireitai os caminhos do Senhor”, dizia João Batista, o profeta da verdade e do sacrifício. Que essa voz ecoe novamente, agora nas praças, nos parlamentos, nas urnas e nas ruas.
Não queremos a política do leilão. Queremos a política do povo. E ela só virá quando recusarmos a farsa e exigirmos a verdade.
Por Harlei Noro | Pensamento crítico com apoio GPT
Uma palavra a serviço da consciência, da justiça e do bem comum.
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