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A Fragilização da Ficha Limpa: Um Retrocesso na Democracia

05/02/2025
  • A Fragilização da Ficha Limpa: Um Retrocesso na Democracia

A Lei da Ficha Limpa representa um marco na luta contra a corrupção e na defesa da integridade política no Brasil. Fruto de uma mobilização popular expressiva, essa legislação nasceu do anseio da sociedade por critérios mais rigorosos para impedir que indivíduos condenados por práticas ilícitas ocupassem cargos eletivos. No entanto, um novo Projeto de Lei Complementar (PLP), atualmente em tramitação no Congresso Nacional, propõe reduzir o período de inelegibilidade de oito para dois anos, levantando preocupações sobre seus impactos na transparência e na moralidade da política nacional.

A Democracia em Xeque: De Quem é a Voz Que Legisla?

A Constituição Federal, em seu artigo 1º, afirma que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". A Lei da Ficha Limpa, sancionada em 2010, é um exemplo emblemático da participação popular direta no processo legislativo, tendo sido fruto de uma iniciativa cidadã que reuniu mais de 1,6 milhão de assinaturas. Seu objetivo é proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato, impedindo que políticos condenados em segunda instância ou por órgãos colegiados possam se candidatar por um período de oito anos.

Agora, no entanto, o Congresso Nacional, composto por apenas 594 parlamentares, pretende rever essa decisão, reduzindo drasticamente o período de inelegibilidade. Tal iniciativa levanta um questionamento crucial: até que ponto os legisladores estão atendendo à vontade do povo ou legislando em causa própria? Se o poder emana do povo, não deveria qualquer alteração na Lei da Ficha Limpa passar pelo crivo da sociedade, que foi sua verdadeira autora?

Reduzir a Inelegibilidade: Quem Ganha Com Isso?

A justificativa do projeto de lei é que o prazo de oito anos seria excessivo e que políticos condenados deveriam ser punidos pelo Código Penal e pela Lei de Improbidade Administrativa, e não apenas pela inelegibilidade. No entanto, essa argumentação ignora o fato de que a inelegibilidade não é uma mera punição penal, mas um mecanismo preventivo para evitar que pessoas com histórico de corrupção voltem a ocupar cargos de poder e utilizem o Estado em benefício próprio.

A proposta favorece diretamente políticos atualmente inelegíveis, incluindo nomes de grande relevância no cenário nacional, que poderiam se candidatar já nas próximas eleições caso a alteração seja aprovada. Tal mudança na legislação enfraquece o efeito dissuasório da Lei da Ficha Limpa, permitindo que políticos condenados possam retornar à disputa eleitoral de maneira quase imediata, muitas vezes sem ter cumprido sequer uma fração significativa de suas penas.

Se a intenção fosse realmente aprimorar a legislação e garantir a moralidade na vida pública, não deveria o debate girar em torno do fortalecimento da Lei da Ficha Limpa, em vez de sua flexibilização? O povo brasileiro aceitaria essa redução ou preferiria endurecer ainda mais as regras para aqueles que atentam contra o interesse coletivo?

O Princípio da Moralidade e o Enfraquecimento das Instituições

A Constituição Federal estabelece, no artigo 37, o princípio da moralidade administrativa, determinando que a gestão pública deve ser pautada pela ética e pelo compromisso com o bem comum. A Lei da Ficha Limpa é uma manifestação concreta desse princípio, pois impede que aqueles que foram condenados por abusar do poder político ou econômico retornem rapidamente ao cenário eleitoral.

A redução da inelegibilidade para apenas dois anos contraria essa lógica e sugere uma condescendência com práticas que deveriam ser coibidas, não incentivadas. Ao permitir que políticos condenados retornem rapidamente ao cenário eleitoral, essa medida mina a confiança da população nas instituições democráticas e reforça a percepção de impunidade, desmotivando o engajamento cívico e eleitoral.

A mensagem transmitida por essa alteração é clara: aqueles que detêm o poder podem reescrever as regras do jogo conforme seus interesses, enfraquecendo a própria essência do Estado Democrático de Direito. A democracia não se sustenta apenas no direito ao voto, mas na garantia de que esse voto seja exercido em um ambiente político íntegro e livre de práticas corruptas.

Um Convite à Reflexão: Qual o Futuro da Política Brasileira?

A tentativa de flexibilizar a Lei da Ficha Limpa não pode ser vista como uma mera mudança técnica na legislação eleitoral, mas como um grave retrocesso na luta contra a corrupção e na promoção da transparência na política. A sociedade brasileira precisa estar atenta e mobilizada para impedir que conquistas democráticas sejam desfeitas por interesses que não representam o bem comum.

Se a alteração proposta for realmente necessária e legítima, por que não submetê-la à consulta popular? O povo brasileiro deseja essa mudança? Ou preferiria, ao contrário, endurecer as regras e aumentar o período de inelegibilidade para aqueles que cometeram crimes contra a administração pública?

A democracia não se fortalece com a relativização da moralidade e da transparência. Pelo contrário, ela se sustenta na vigilância constante e na participação ativa da sociedade na definição de seus rumos. Cabe a cada cidadão refletir e agir para garantir que a política brasileira caminhe na direção da integridade, e não da impunidade.

Harlei Noro | Pensamento crítico com apoio GPT


* Assine o abaixo-assinado em Defesa da Ficha Limpa (clique para acessar).

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